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"Touro maquiado? Nunca mais, compadre!"

Publicado em 20/03/2024

Por: William Koury Filho

Primeiramente, gostaria de apresentar os protagonistas desta história: meu grande amigo, seu Edivaldo Pedroso, homem de conduta impecável, metódico e com conceitos inabaláveis. É engenheiro agrônomo pela ESALQ e há anos está à frente de um projeto científico de preservação de uma linhagem rústica e produtiva do Nelore. O outro, o Sr. Antônio Andrade, paulista, vive no estado do Pará desde a década de 1980 e, atualmente, com ajuda do filho Antônio Júnior, toca uma operação de cria com 18 mil matrizes Nelore.

A prosa a seguir se deu no ano passado, quando Edivaldo saiu de Minas e foi visitar o cliente - e amigo - na fazenda vizinha da antiga propriedade da família Pedroso, no norte no país.

O sol já estava se pondo, com tons de vermelho, amarelo e azul, quando Edivaldo surgiu acompanhado do Manoel, seu braço direito na fazenda Admirável Campo Novo. Seu Antônio já esperava na varanda da casa, lugar aconchegante ao estilo das sedes de fazendas antigas.

Quanto tempo, Edivaldo! Tudo bem, Manoel? Como andam as coisas em Uberaba, perguntou Sr. Antônio.

Andam bem, seguimos produzindo aquela tourama boa que o senhor conhece; aliás, sentimos sua falta no leilão Campeões do Pasto, do ano passado, respondeu Manoel - de prontidão.

Calma, Manoel, não aperta nosso amigo logo na chegada; certamente foi um ano em que ele não precisou de touro, disse Edivaldo.

Meio sem graça com o rumo da prosa, Seu Antônio foi logo dizendo:

- Vamos chegar, gente, desçam as malas. Querem tomar um banho? Agora é hora de relaxar para tomarmos um whiskinho e, aí sim, falaremos de gado. Tenho dúvidas e queria aproveitar o conhecimento de vocês para entender como anda a genética do Nelore.

De banho tomado, Seu Antônio pergunta:

- Vamos ficar dentro da casa no ar condicionado ou preferem a varanda?

A lua cheia surgia por trás da linda mata que rodeava a casa, com castanheiras monumentais entre outras árvores de porte robusto inerentes à terra boa do Parazão. Edivaldo não teve dúvida:

- Vamos para a varanda, Antônio, com essa lua linda e essa brisa não tem lugar melhor. Você está perdendo a rusticidade? Indagou Edivaldo com aquele sorriso maroto abaixo do bigodinho.

Que é isso, Edivaldo, está me estranhando? Sou o mesmo, não tenho paciência é com o trânsito e com o barulho das cidades. Nem para Marabá quero ir mais, quem cuida dos assuntos na cidade tem sido o Júnior.

- Já ia perguntar do Júnior mesmo, ele não está por aqui?

- Não, está a caminho de Uberaba, foi fazer o curso de EPMURAS e acasalamento dirigido Boi com Bula na Campo Novo. Ele precisa reforçar os conceitos de seleção dos tipos de touros que aguentam o Parazão e nossa criação a pasto.

Manoel sentiu o ar de descontamento de Seu Antônio que, a essa altura, já tinha tomado três doses de whisky e, com a língua mais solta, foi logo dizendo o que estava incomodando-o:

- Amanhã cedo vamos rodar o gado e quero lhes mostrar os touros da Campo Novo ao lado dos que o Junior comprou de uma outra marca famosa. Que desastre, Edivaldo! No vídeo, os touros da outra marca estavam bonitões e com avaliações genômicas muito boas, o Júnior olha bastante para isso. Assim, aprovei de ele fazer uma experiência com 25 animais – disse Seu Antônio com ar de arrependimento e seguiu:

- Mas eu nunca duvidei da linha que aprendemos com você, de buscar touros avaliados sem artificialismo, sem guloseimas, como você sempre diz. Gosto muito do critério da Campo Novo e de outros, como o pai do Wilsinho, que falam que o touro tem de ser selecionado em ambiente próximo e que seus filhos serão engordados e suas filhas irão virar matrizes. Você, Edvaldo, o Manoel e o Wilsinho falam muita coisa importante no leilão sobre o boi bombado e a importância da rusticidade com eficiência produtiva, o tal do rústico com tecnologia.

E segue seu Antônio: - Os touros que o Júnior comprou derreteram e não recuperam; pensa num gado sem saúde no pasto. E finalizou: Touro maquiado? Nunca mais, compadre!

Durante o retorno, Edivaldo e Manoel vieram debatendo a escolha de 45 touros para atender ao Sr. Antônio, homem do campo que não merece perder tempo com esses reprodutores selecionados para o trânsito e o barulho das cidades grandes.