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"RUSTICO"

Publicado em 15/03/2021

Por: William Koury Filho

Caros leitores, o termo rústico tem sido muito utilizado para repre-sentar algo mais natural, resistente ou até tosco ou grosseiro, contrastando com o moderno, delicado ou refinado. Os móveis rústicos são um bom exemplo, uma vez que são mais naturais e fortes; o pão rústico, que também re-mete ao natural; ou a cerveja artesanal que também pode ser considerada mais “rústica” no sentido de passar por me-nos processos industriais.

Enfim, hoje tal conceito vem associado a algo espe-cial ou gourmet.Também se ouve utilizar esse adjetivo para pessoas, sinalizando alguém desde forte e resistente até grosseirão ou sem qualquer requinte. Engraçado que, num mundo polarizado, o rústico seja entendido por muitos apenas como um estereótipo, geralmente contrastando com a tribo do mimimi. O mundo ficou muito chato com o politicamente correto – há muito ressentimento, prefiro a conversa mais “natural”. Melhor deixar de falar de gente e vamos falar de bicho, mais especificamente dos bovinos.

Antes mesmo de entrar no tema gado, vamos observar a natureza. A rusticidade das manadas de zebras ou gnus africanos, ou mesmo de bisões norte americanos, sempre foram objeto de estudo para mim – se não forem saudáveis, esses grupos viram comida de predador, só os mais fortes sobrevivem. Como zootecnista, sei da importância de se compreender o comportamento animal e entender o processo de seleção natural.

Eu me recordo do fascínio ao ler o clássico “Origem das Espécies” publicado no século XIX pelo grande cientista Charles Darwin, obra fundamental para o entendimento da biologia. Darwin foi um dos primeiros a falar sobre evolução das espécies até descrever conceitualmente a teoria de que os mais adaptados ao meio ambiente – em cons-tante transformação – são os que geram descendentes, enquanto os menos adaptados sucumbem até a extinção.Atualmente, falar de rusticidade nos bovinos pode soar atrasado.

Confesso que eu mesmo era implicado com o termo, dizia que o mais certo era falarmos de adaptabilidade. A ideia era justamente identificar e selecionar os melhores indivíduos, já que os mais adaptados nos grupos de manejo geralmente se destacam principalmente em características produtivas e reprodutivas.

Pois bem, hoje penso diferente e passo a gostar de usar o adjetivo RÚSTICO porque estamos precisando ser mais diretos, mais simples e naturais na comunicação. Para você, caro leitor, entender onde quero chegar, vamos exemplificar com o Nelore de cocheira, que acerca de duas décadas ainda era a grande referência de genética de ponta para a raça. Através da pista e do uso de tecnologias foram selecionadas e multiplicadas linhagens capazes de altos ganhos em peso com base em dietas cada vez mais sofisticadas e cuidados cada vez mais artificiais.

Assim, foi se definindo o ambiente de criação para pista, com objetivo de altíssima performance e, com isso, modelando um biotipo de tamanho (frame) muito grande e com estrutura de crescimento dos tecidos capaz de suportar enormes ganhos em peso. O problema é que a genética dos animais bonitões na cocheira não se mostrou saudável a pasto – base da pecuária brasileira – e deixou de ser utilizada pelos rebanhos comerciais em função de resultados insatisfatórios.

Se fosse aplicada seleção em processo mais natural, os animais que requerem cuidados especiais para nascer, mamar ou aqueles muito magros, não se multiplicariam com sucesso, e pouco a pouco as linhagens mais exigentes desapareceriam. Pois bem, com o insucesso no campo dos reprodutores ditos pisteiros, ganha força o Nelore de Prova oriundo de rebanhos que participam de programas de melhoramento.

Os índices genéticos passam, então, a ser o grande objeto de desejo do mercado. Utilizando-se de genética selecionada em ambiente mais próximo da sua realidade, a pecuária comercial evoluiu muito em performance, e tudo parecia estar indo bem. Só que não... Além de muitos produtores de genética exagerarem no trato, a obsessão do mercado pelos TOPs nos índices genéticos culminou na busca do desempenho a qualquer preço. E, com isso, efeitos negativos da seleção para alto desempenho nos índi-ces contrapõem a tão importante funcionalidade do Nelore.

Atualmente, altos pesos ao nascer têm provocado muitos partos distócicos, o tamanho adulto das matrizes tende também a aumentar e, com isso, a exigência ambiental. Outro problema de se olhar só para números, deixando de observar o animal, é o relaxamento na seleção de características funcionais como aprumos ou umbigo, além do biotipo que no campo pode comprometer muito a rusticidade dos animais e o resultado econômico. Equilíbrio, eis a questão.

Móveis rústicos em harmonia com design moderno resultam em equilíbrio, assim como pão rústico harmoniza com um bom vinho e aquela cerveja artesanal vai muito bem com um prato mais requintado. Rústico pode ser bonito e sinônimo de bom gosto.

No gado, o caminho da harmonia é o mais virtuoso, precisamos usar de TECNOLOGIA capaz de ajudar a identificar os animais RÚSTICOS e mais produtivos. Já dizia Aristóteles: por uma questão de ética, devemos nos desviar da hybris (desmedida, extremos) e buscar sempre a reta justa, ou seja, o caminho do meio.

É isso aí. Vamos que Vamos!