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O tempo não se compra

Publicado em 14/09/2021

Por: William Koury Filho

O título da coluna desta edição se aplica à nossa vida e ao melhoramento genético, especialmente ao de bovinos de corte com grande intervalo entre gerações  por definição, a idade média dos pais quando sua progênie nasce.

Na vida, quando somos jovens, nos consideramos quase imortais, assumindo riscos e enxergando a velhice como algo muito distante. Então amadurecemos, perdemos a companhia de pessoas queridas e, aí sim, passamos a dar conta do valor do tempo. Mas vamos deixar de filosofar e falar sobre seleção e melhoramento genético. Melhoramento é um processo contínuo, e o que define a velocidade da sua evolução é o ganho genético anual  isso mesmo, uma relação simples de ganho por intervalo de tempo. Mas, antes, temos de saber o que estamos medindo, ou seja: evoluindo para quê?

Temos que ter claro qual nosso objetivo de seleção para pisar no acelerador. Muitos equívocos já aconteceram na seleção, como, por exemplo, a busca do animal mais pesado sem pensar em equilíbrio é quando pisar no acelerador pode implicar derrapar e sair da pista. Na busca pelo mais pesado em idades jovens, nas exposições, nascer grande era bom, assim como mamar em quantas amas de leite fossem necessárias e, em seguida, receber a melhor nutrição possível, independente do custo final. É tamanho o artificialismo, bem como a distância da realidade, que o resultado só poderia dar errado.

A solução não é simples, mas minimizar essa busca frenética por desempenho é possível mudando os critérios de julgamento, conscientizando-se de que o mais pesado pode não ser o melhor. Caminhou-se nesse sentido, e bem que a velocidade poderia ter sido maior, bastava encarar o problema de maneira mais direta, buscando a ciência para ajudar a definir parâmetros a serem mais considerados nos julgamento. Contudo, o lado comercial falou mais alto e, até que houvesse realmente um colapso, a ilusão foi alimentada. Eita, olha eu filosofando novamente.Devo dizer que eu sou fã dos julgamentos.

Quanto aprendizado eu tive nas mais de 100 exposições que julguei no Brasil, México, Panamá, Colômbia, Bolívia e Paraguai. De fato, espero que possamos evoluir cada vez mais para um julgamento que busque funcionalidade acima de tudo, e que a referência do que é exagerado em tamanho mude. Assim, as exposições poderão voltar a crescer em nosso país o que seria muito bacana. Pois bem, mas o que essa conversa toda tem a ver com melhoramento genético e o mercado de hoje?

Atualmente, os índices genéticos e genômicos têm sido vendidos como verdades absolutas, não pela ciência, mas pelos interesses comerciais. Claro que são uma moeda, têm seu valor, porém dependem de uma interpretação. Isso mesmo, o pacote tecnológico envolvido na venda de um animal tem que ser interpretado/avaliado por alguém que entenda muito do riscado para se estimar um parâmetro comercial (principalmente voltado àquele que deveria valer mais).

Poucos sabem interpretar o conceito de interação genótipo/ambiente, o que pode distorcer resultados e fazer com que um investimento em genética seja frustrado. Um animal que possua um determinado gene para uma característica importante não garante que a expressão genética seja plena no ambiente em que você irá criar o animal. O que está acontecendo é que, com as excelentes ferramentas de avaliações genéticas, algumas pessoas imaginaram que não fosse mais tão importante olhar para o rebanho, olhar para o indivíduo para “enxergar” uma superioridade dentro de seu grupo de manejo, o que é um despropósito radical, que comercialmente podemos considerar talvez mais um modismo. Tais ferramentas não podem ser “queimadas”, uma vez que são muito importantes.

Não dá para imaginar um processo de seleção, hoje, sem avaliações genéticas para somar e auxiliar na definição das tomadas de decisão. Filosofando novamente: quantas vezes, em colunas passadas, falei sobre a virtude do equilíbrio? Nem me lembro, foram muitas. O interessante é que, neste final de semana, estava conversando com um amigo engenheiro sobre eficiência de sistemas, e a teoria que ele me explicou sobre a importância do balanço e sintonia entre os sistemas para um melhor resultado final se aplicava ao melhoramento genético e à vida. Além do equilíbrio entre fenótipo e genótipo, a harmonia entre as caracterís-ticas genéticas é importante, não adianta ser muito bom para peso se não tiver bio-tipo funcional e produtivo, não adianta ser muito forte para stayability, se for péssima para habilidade materna. Pois é, equilíbrio! E sobre a relação do melhoramento com o tempo?

O que podemos fazer é identificar animais superiores em idades mais jovens e promover a sua multiplicação. É o único atalho, além da opção de investir na compra de genética num projeto adiantado.

Tudo isso, sabendo que, em ambos os casos, o cuidado de não errar o caminho é muito importante, tanto na compra como na identificação de quem multiplicar cuidado com atalhos traiçoeiros. No caso de touros e matrizes, quanto mais produção, mais segurança é necessária na escolha de uma doadora ou sêmen, o que demanda mais tempo maior intervalo entre gerações.

Mais uma vez, a capacidade de interpretar as informações e o equilíbrio na tomada de decisão pode definir o êxito de um processo importante no melhoramento como os acasalamentos dirigidos.

Isso aí, vamos que vamos!