Saiba mais sobre tudo que rola no mundo da pecuária!
Publicado em 23/02/2024
Por: William Koury Filho
Prezados leitores, em minha nonagésima nona coluna, resolvi experimentar outro estilo de escrita. Meu amigo e parceiro Luciano Bitencourt, pessoa pela qual tenho grande admiração, tem me provocado há algum tempo a explorar novos caminhos no campo das palavras. Então, resolvi escrever uma série de contos, ou causos, baseada em fatos, conceitos e pessoas reais e fictícias! Espero que gostem!
O primeiro texto será sobre o Elias Sabino. Eu o conheço desde os tempos de doutorado, quando ele ainda era estudante de graduação e muito interessado pelo EPMURAS. Recentemente, estivemos juntos num evento técnico altamente conceituado, onde, no encerramento, o Eduardo Cavalin nos provocou com o tema: “Qual será o seu legado?”. Que incrível coincidência! Era justamente sobre isso que eu e Elias conversávamos.
- Qual será o seu legado, papai?
Foi a indagação de João Pedro, de apenas nove anos, ao encontrar Elias naquela manhã de domingo.
Elias Sabino, quinta geração de pecuaristas, zootecnista formado pela FAZU, daqueles sacudidos na lida da fazenda e apaixonados pelo Agro, ficou pensativo por alguns segundos enquanto dava um sorriso seguido de beijo na Ana Laura, de seis anos. Em seguida, tascou outro beijo na esposa, que estava terminando de passar um café especial – presente do amigo Cassiano Tosta, de Garça (SP). O aroma delicioso já preenchia toda a cozinha.
- Filho, o que você quer saber do pai?
Respondeu com ar meio confuso àquele questionamento vindo de um garoto tão jovem e pensou: - Diacho, o que eu vou responder para esse moleque?
Na sequência, com grande entusiasmo, João responde com outra pergunta:
- O que é legado, papai? É que a professora nos ensinou que gente admirável deixa um legado e você é a pessoa mais importante do mundo.
João Pedro sonhava em trabalhar na fazenda, pois, para ele, seu pai era o super-herói que partia na segunda, antes do sol raiar e, muitas vezes, voltava só no sábado, de barba por fazer e sujo de poeira. Imagem heroica reforçada por sua mamãe, Isolda, médica dermatologista. Rígida na conduta, mãe carinhosa e companheira apaixonada por Elias, ela sempre enaltecia para as crianças a importância do trabalho do pai:
- Papai foi para a fazenda cuidar das vacas ou dos bezerros ou dos touros. Nesses momentos, sempre lhe vinha à cabeça uma das categorias que o seu amado pai manejava na fazenda da família e ela explicava um pouquinho dos cuidados, pesagens e avaliações. As crianças - com olhinhos de saudade - concordavam, mesmo ainda sem entender muito bem os valores que a mãe estava passando.
Sobre a mesa, pão de queijo quentinho, doce de leite e quitandas especiais, ricas de memórias afetivas, como aquele bolo de fubá com goiabada cascão, receita antiga da vovó Esmeralda, mãe de Isolda e filha de tradicionais criadores de Gir da cidade de Uberaba (MG). Ela não esqueceria jamais: dona Esmeralda traduzia suas raízes na roça em guloseimas fantásticas.
Elias responde:
- Filho, legado é o livro da nossa vida, onde escrevemos uma história que envolve muita gente; por exemplo, vocês - minha família - fazem parte do meu legado, além do trabalho na fazenda com produção de genética de Nelore e sementes de capim para produzirmos alimento para muita gente. Isso sem falar na fazenda do Mato Grosso que o seu tio Andolfo cuida e que também produz soja, milho, arroz e feijão. Ou seja, o legado de nossa família é produzir alimento com sustentabilidade.
- O que é sustentabilidade, pai?
- É produzir alimento, dar empregos para muitas famílias, preservar a mata e ganhar “dindin” para pagar sua escola, nossa casa e esse delicioso pão de queijo com doce de leite.
- Entendi, pai! E é isso que eu quero ser quando crescer.
A conversa do João Pedro contagiou Elias. Senti que hoje ele está ainda mais convicto e realizado com seu trabalho, tenho certeza de que ele segue firme para cumprir seu legado como zootecnista, pai e filho. Não foi por acaso que nosso diálogo, naquele evento, se encerrou assim:
- É isso aí, William, não vai ter tempo ruim para nosso negócio não; logo, logo a pecuária recupera seus valores. Da minha parte, eu tenho de dar é exemplo para o João Pedro e a Aninha; amanhã cedinho saio para Santa Vitória, tenho inseminação marcada às 9h.
Legado é legado. Vamo que vamo!