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"Me engana que eu gosto"

Publicado em 14/08/2023

Por: William Koury Filho

Caro leitor, peço desculpas pelo título um tanto quanto grosseiro e provocativo; porém, hoje, vou falar um pouco sobre minhas impressões atuais do mercado de touros.

Motivado pelas incitações positivas durante a entrevista com o Prof. Bento Ferraz e pelo áudio do Thiago Amorim que geraram discussões interessantes em grupos de WhatsApp, o exagero no preparo dos touros ofertados em leilões será um dos temas desta coluna. É curioso tocar nesse assunto uma vez que eu o havia colocado recentemente numa participação em aula prática de melhoramento para pós-graduandos, realizada na Fazenda Mundo Novo.

A prosa diz respeito aos produtores de genética que, atualmente, estimulados pelo apelo de valor de venda, estão “turbinando” a recria e o preparo dos touros que irão cobrir vacas e novilhas a campo. É importante entender questões que vão além do princípio básico de que touros devem ter avaliações genéticas. Existe uma grave contradição no mercado que pede por um reprodutor adaptado, mas que valoriza os touros “turbinados”. Muitas vezes, esses touros chegam a ser até obesos e, quando estão em uma fazenda comercial, não entregam o que prometeram.

Não se pode negar o fato de que reprodutores melhor preparados são vendidos por melhores preços. Mas é nesse ponto que o selecionador fica numa sinuca de bico: selecionar de acordo com a realidade da pecuária comercial ou colocar uma embalagem mais atraente no produto?

Na minha opinião, o ideal é o selecionador acompanhar a realidade de um criador de gado de corte de primeira linha. Como é produtor de semente, o boi com conceito “888” é uma boa referência: 8@ na desmama (240 Kg), ganhando + 8@ na recria e terminado com 24@ aos dois anos. Considerando 56% de rendimento, chegamos, aproximadamente, a 650Kg. Se for parar numa recria mais longa, adiar a terminação e comercializar com 32 meses, creio que 750 Kg - equivalente a 28@ - seja um patamar sadio. Hoje, existem leilões de touros de dois anos com média de 800 Kg.

Embalagem cara que chega à fazenda, perde-se na braquiária e é ruim para comprador e vendedor.

A única solução para esses casos é conscientizar o mercado de que: não se deve comprar um animal simplesmente pela apresentação, fenótipo ou a popular “boniteza”; e, mesmo adquirindo reprodutores com avaliações genéticas, que é o básico, é muito importante comprar um touro selecionado em um sistema de produção similar ao que ele será criado, tendo em vista a garantia de resultados. Isso porque existe a interação genótipo ambiente. Então, um percentual muito grande do fenótipo que você está vendo não é explicado pelas avaliações genéticas, mas por alimentação e cuidados que este animal teve durante a vida.

Quanto aos animais de pista na raça Nelore, entramos em outro segmento, pouco relacionado com a pecuária de produção; quase um mercado de arte. Se entendido por todos assim, está tudo certo, pois a genética utilizada em pista, no Brasil, está muito diferente daquela que apresenta resultados no campo. Parte disso é porque animais relativamente medianos estão sendo julgados e comparados em terra de gigantes; basta conferir pesos e medidas. Deve-se, portanto, definir melhor o que é este “mediano” para referências de julgamento.

Em outras raças por aqui, e no Nelore fora do Brasil, o biótipo de pista segue um pouco mais próximo da produção, embora haja limitação do julgamento quanto à impossibilidade de se comparar fenótipos dentro de grupos de manejo, conceito básico de melhoramento, já que esses animais provêm de origens e manejos diferentes.

Para finalizar, fica a dica: pecuarista, não compre gato por lebre. Corra atrás das informações. Interpretar as avaliações genéticas, morfológicas e de desempenho é fundamental para fazer as melhores escolhas na aquisição de sêmen ou touro. O mercado que vende diferentes tipos de produto a todo o tempo sempre irá dizer que a mercadoria do dia é a melhor e, você, amigo leitor, acredite se quiser. Vamos que vamos!