portugues ingles espanhol

blog brasilcomz

Saiba mais sobre tudo que rola no mundo da pecuária!

“AUDHUMBLA”

Publicado em 30/12/2020

Por: Guilherme Faria Costa

Olá meus amigos, escrevo esta última crônica do ano já passadas as festividades natalinas que, desta vez não foram tão semelhantes às outras passadas. Este foi um ano um tanto quanto incomum que testou a todos das mais diversas formas, mas seguindo com fé, dele fizemos um bom proveito.

Por se tratar de fé, em uma data bastante propícia, decidi trazer de forma simples a relação do bovino com as religiões. Desde 4000 a C o gado já era encontrado em grande volume na região do Crescente Fértil, no Oriente Médio, seu culto se baseou em tradições muito antigas, sendo desconhecida a origem exata, podendo ter surgido na Mesopotâmia (atual Iraque), bem como em regiões vizinhas como a Anatólia ( Na Babilônia, até sua queda em 539 a C o deus Enlil (representado por vezes como um touro selvagem) regia a vida dos sumérios e assírios seus reis muitas vezes se identificavam com essas deidades e portavam chifres em suas ornamentas, da mesma forma que representações de touros carregavam barbas como apenas os reis usavam. Estátuas muito altas de touros alados e cabeças de homem com chifres decoravam os palácios.
Partindo das terras do Tigre e do Eufrates o culto ao bovino se espalhou pelo Mediterrâneo e pela Europa No Antigo Egito imagens em tumbas e no Livro dos Mortos expõem o touro como elemento sagrado. O touro Ápis representado com um sol entre os chifres era a encarnação do deus Ptah deus dos artesãos e Hathor a deusa com cabeça de vaca, a deusa maternal. Ambos eram os patronos da cidade de Mênfis.
Dos impérios faraônicos, o touro seguiu pela Fenícia (atual Líbano) com o mito de Europa, filha do rei que encantou Zeus por sua beleza. O deus se transformou em touro e raptou Europa levando a pelo mar até a ilha de Creta, deste relacionamento, dentre outros filhos nasceu Minos lendário rei da ilha.
Sobre as paixões de Zeus, houve Io uma linda moça que, tendo o deus se apaixonado por ela, foi transformada em novilha para enganar sua esposa Hera toda enciumada colocou Argos para guardá la Hermes deu cabo de Argos, mas Hera mandou moscas para perseguirem Io em sua fuga. A novilha correu até o Egito, passando pela costa da Grécia, onde nomeou o mar, Mar Jônico, atravessando para a Ásia pelo caminho que ficou conhecido como Estreito de Bósforo (Caminho do Boi), somente descansando às margens do Nilo.
A cultura grega evoca frequentemente o gado Na Creta minoica, onde nasceu a lenda do Minotauro, filho de Pasiphae e de um touro que Minos se negou a sacrificar a Poseidon fazia parte dos costumes a taurocatapsia um festival que envolvia touros e acrobacias, como pode se ver representado em arabescos antigos no Palácio de Cnossos Dos famosos Doze Trabalhos de Hércules dois envolviam bovinos, quando lhe foi solicitado acudir o povo de Creta contra um touro enfurecido e quando foi roubar o rebanho do gigante de três corpos, Gerião. Os romanos fizeram sua adaptação ao culto do touro, eles veneravam um deus que matou um touro Proveniente de um mito persa a crença no deus Mitra dizia que ao pedido do Altíssimo, Mitra deveria abater um touro deste sacrifício, surgiram os campos de grãos, as uvas e os animais úteis ao homem.
Assim, o touro passou a ser um sacrifício aos deuses Somente gado branco servia aos rituais e os precursores das raças Marchigiana e Chianina se prestavam a isso.        O abate cerimonial de touros também desempenhou um papel importante entre os celtas, os druidas, os normandos, os germânicos e os citas. Para além do rico Vale do Nilo, muito ao sul do Mediterrâneo, na África Subsaariana os bovinos também têm seu papel religioso No Sudão do Sul, o povo pastor Dinka tem como santuário um grande curral redondo, o “Curral de Deus”.

Em Camarões, nas regiões de Dowayo e Duupa no norte do país os mortos são enterrados em peles de touros velhos e de bois, a pele é usada como caixão. O mais curioso hábito religioso dos povos africanos em relação aos bovinos é o dos povos Mahafaly e Antandroy no árido sul de Madagascar. Esses povos mantêm grandes rebanhos que são amplamente utilizados em rituais de sepultamento e construção de tumbas colossais o zebu serve de guia para a vida pós morte. O ritual consiste em sacrificar todos os bois do falecido (somente os bois), os animais vão servir de alimento aos convidados e aos construtores das tumbas, nos túmulos são colocados totens de pedra (alo alos com retratação de touros zebu além dos totens, os túmulos são adornados com os crânios dos bois abatidos no funeral Rumando a leste e tornando o bovino tão sagrado que “qualquer um que matar uma vaca passará tantos anos no inferno, quantos pelos que o animal tiver”, deixamos de lado o feroz touro ( e abraçamos a doce vaca ( chegando à Índia. Essa passagem que citei era o mote de um período que se iniciando no século VII, proibia o abate e o consumo de carne bovina, onde por um tempo o abate de bovinos era punido com a morte. Historicamente os bovinos são muito importantes religiosamente no subcontinente indiano, desde os sítios arqueológicos de Harapa e Mohenjo Daro até os deuses como Vishnu, Krishna e Shiva com seu touro Nandi As vacas são o elo entre os humanos e os deuses.
Passando às tradições abraâmicas de maneira mais discreta, mas não menos presente, o bovino está nas leis do que é bom e permitido ao consumo dos povos e na estrebaria onde Jesus Cristo nasceu. Em algumas regiões dos Países Baixos durante a Idade Média era costume as igrejas serem construídas no malhadouro dos bois de trabalho. Em Nijland na Holanda, há um vitral na construção que representa esse costume Embora hoje esteja em declínio nas tradições católicas europeias, era convencional a benção do gado nos dias de Santo Antão 17 de janeiro) e de Santa Brígida de Kildare 1 º de fevereiro).
O que todos esses costumes e tradições nos mostram e que fica muito claro, mesmo tendo variações nos hábitos de diversos lugares, muito longínquos uns dos outros, é que os bovinos, o touro e a vaca, representam de algum jeito tanto a terra quanto ao lar, o vínculo espiritual com seu povo e seus deuses, além de fertilidade e riqueza.

Mas então o que seria AUDHUMBLA O que isso tem a ver com o tema dessa crônica? Audhumbla é a vaca primordial da mitologia nórdica, a partir dela é que surgiu o mundo e tudo que nele existe. Segundo o conto ela surgiu no espaço vazio que existia entre o Reino das Névoas e o Reino do Fogo, junto com o gigante Ymir Do gelo que Audhumbla se alimentava surgiu Búri que viria a ser avô de Odin iniciando se assim o mundo pelo conto nórdico.
Bem, meus amigos, aqui chegado ao fim deste nosso conto e ao fim do ano de 2020 desejo lhes o que os bovinos representam aos povos que os apreciam também espiritualmente, mais afeto aos seus, à sua terra, muita riqueza e prosperidade e que 2021 seja um ano de ideias, planos, pensamentos e vontades férteis.

Um abraço e até outra hora!